quarta-feira, 9 de abril de 2008

Português versus Internetês

Depois do português e do inglês, parece que chegou a vez do “internetês”, e para ficar. Desde a chegada da internet ao Brasil, em 1991, seus usuários passaram a usar códigos específicos para se comunicar. Esse usuário ganhou até um nome: internauta.

Essa comunidade passou a usar expressões e até sinais particulares como forma de transmitir um recado, via e-mail, por exemplo.

Recheado de abreviações, símbolos e expressões feitas a partir da união de teclas, esse modo de conversar contagiou os internautas e configurou uma maneira bem diferente de se comunicar.

Muitas vezes, quem está por fora desse meio fica sem entender o significado de alguns termos. Mas quem está acostumado a esse novo linguajar diz que isso permite a velocidade da comunicação.

É o caso do estudante do ensino fundamental William Maximiano, 13. “Fico na internet três horas por dia. Falando desse jeito (usando sinais e símbolos), converso mais rápido e todo mundo me entende”, relatou.

Mas tamanha mudança pode trazer alguns problemas. O internetês ainda não é aceito como linguagem formal e pode trazer complicações gramaticais. “Você”, na internet, virou simplesmente “vc”. O “não”, em vez de ficar abreviado, acabou se transformando em “naum”.

A auxiliar administrativa Roseane da Silva Vieira adota essa linguagem, mas admite que, em e-mails de caráter profissional, usa o corretor ortográfico do computador para eliminar essa “nova linguagem”. “Uso a verificação e quase sempre encontro erros por conta dessa linguagem, que é prática mas perigosa”, disse a profissional.

O internetês também causa polêmica entre lingüistas, pais e professores. Alguns consideram um retrocesso da Língua Portuguesa. Outros afirmam que variações na língua ocorrem de acordo com o período de transformações tecnológicas na sociedade.

“O internetês é mais uma variação da linguagem que nasceu para acompanhar uma tecnologia. Quando surgiu o telégrafo, uma linguagem foi criada para acompanhá-lo. Não há motivos para alarmismo”, afirmou o professor de português do Curso Anglo Eduardo Antônio Lopes. O lingüista Marcos Bagno, autor de “Preconceito Lingüístico, o que é, como se faz” (Editora Loyola), também não considera essa variação na comunicação um retrocesso da língua. “É mera questão ortográfica. Há centenas de anos, os anúncios classificados nos jornais usam abreviaturas e ninguém nunca chamou isso de "classificadês". Em ambos os casos se economiza alguma coisa. Na internet, se economiza tempo; nos anúncios, se economiza dinheiro”, explicou.

O livro de Bagno fala inclusive sobre o fato não existir uma forma apenas de falar a língua portuguesa, e que isso depende de vários fatores, inclusive regionais.

O professor Lopes, do Anglo, lembra ainda que a linguagem telegráfica influenciou muitas vanguardas européias e, posteriormente, brasileiras. O próprio escritor Oswald de Andrade valeu-se dos termos telegráficos em seus poemas.

Mas quando o internetês deixa os limites da rede e chega às salas de aula, começa a polêmica. Crianças e adolescentes passam tanto tempo em frente aos computadores, escrevendo de forma abreviada e usando sinais gráficos para demonstrarem seu estado de ânimo, que, ao desligarem a máquina, já não conseguem usar a norma culta da língua.

A professora de português do Colégio e curso Objetivo Maria de Lourdes da Conceição, a “Lu”, nota a presença da internet nas redações escolares. “Os vícios da internet são transferidos para a escrita formal. Cabe ao professor alertar, a partir da correção, que há um momento específico para se usar o internetês”.

Segundo a mestra, não há um modo de evitar o uso dessa linguagem. “Se fosse possível impedir a alteração da linguagem, ainda falaríamos latim, ou soltaríamos grunhidos dos homens da caverna. Claro que, em muitos casos, o internetês até parece uma linguagem pré-histórica, ‘naum axa’?”, brincou.

Bagno concorda com a tese da professora do Objetivo e reforça que a internet propiciou ao jovens um contato maior com a escrita. “Os professores devem estimular esse uso, porque nunca antes na história as crianças e adolescentes escreveram tanto”.

O professor Lopes defende inclusive que a linguagem da internet é mais pedagógica que a ensinada nas salas de aula, já que é absorvida com mais rapidez pelos alunos. Segundo o especialista, isso deve servir de reflexão para os professores de línguas.


* O texto foi escrito para o Jornal Rudge Ramos em parceria com Graziele Storani.

4 comentários:

Kimera Kenaun disse...

Bela matéria, mari. GOstei.... No fundo sabemos que não é a 'melhor coisa do mundo escrever nessa linguagem...mas quem resiste a uma abreviaçãozinha? hehehe

Renato Sansão disse...

Mt bowa sua materia, Mari!!!
Vc captou bem a ideia, + axo q num tem prob naum falar o internetes.

Ele eh bunitin, simpatico e dexa as coisas meiassim... fofas, neh miguxah?!?!!

Bjuzzzzzzzz!!!!

Marina disse...

Mazinha, matéria muito boa mesmo! Parabéns também para a Graziele Storani.
Nunca tinha pensado nesses pontos de vista que você e sua colega trouxeram com os comentários dos lingüistas e professores... Mas mesmo assim acho que uma forma culta de se escrever, ou até mesmo coloquial, porém que não altere tanto a escrita das palavras, ainda tem de ser reforçada na educação. Afinal esse fenômeno da Internet e muito menos do internetês (que é típico de jovens) nem de longe ainda é tão abrangente no Brasil. E os jovens hoje ainda precisam se acostumar a escrever sem utilizar o internetês, para que possam compreender e serem compreendidos.

Anônimo disse...

Muito rico esse texto, parabéns! Concordo com a idéia de alarde desnecessário! É gostoso achar culpados de caráter imediato para justificar péssimas políticas de ensino que se arrastam há 25 anos! A culpa da falta de compreensão por parte de alunos ao ler textos, o uso de gírias ao falar e abreviações e sinais nas redações seria da internet? Ela só é mais competente e rápida em ensinar do que o próprio sistema educacional. Sem falar nas dissertativas e redações de respeitados vestibulares! Há de fato muita influência da internet, mas o justificaria a ausência de influências vindas de gramáticas, apostilas, professores, avaliações, livros e cadernos? Acho que essa é a questão! =P