segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Cesto de lixo branco

Há um cesto de lixo no meu quarto. O coitado nunca viu nem um sinal de lixo, nem uma bolinha se papel sequer. Os rascunhos continuam ao lado do computador, junto com os lenços de papel usados. Sempre o encaixo na cabeça enquanto digito, o uso de chapéu quando estou sozinha.

Compramos juntos. O seu é preto, o meu é branco e eles estão mais distantes do que nunca agora. Racional como você é, já o usou muitas vezes. Já encheu de lixo, talvez até as minhas fotos e cartas tenham passado por ele. O meu não sai da minha cabeça assim como todas as outras coisas que me lembram você.

Ele pressiona minha cabeça e dá uma sensação gostosa, parece que vai escapar, mas não escapa. Com você também foi assim durante muito tempo, embora a sensação de fuga não fosse tão boa assim. Pressionava, ameaçava escapar para que eu te usasse de acordo com a função que você tinha na minha vida, mas não escapava.

Você precisava ser alimentado assim como o cesto de lixo. E eu ali, fabricando muito alimento, engordando cada vez mais seu conteúdo, mas sem jogar dentro de você. Todo mundo via, eu mostrava pra todo mundo, só você que nunca sentiu o gosto.

Eu acho mesmo que eu preciso aprender a usar meu cesto. Vai que um dia ele escapa ou enferruja.

Palpiteiros virtuais

Sempre me incomodei com as sugestões de outros itens de compras que saltavam da tela todas as vezes que eu pesquisava um produto na internet. Incomodava-me porque não respeitavam a singularidade de cada comprador. Não é porque pesquisei o CD do Chico Buarque que necessariamente eu vou gostar do Caetano.

Chatices a parte, eu imagino que a ferramenta deve alavancar horrores as vendas. Não porque a chance de acerto é grande, mas porque joga na cara do comprador outros produtos que ele pode levar por impulso ou para presentear alguém.

Fiz o teste no site da Americanas, cliquei aleatoriamente em uma de suas ofertas, a coleção de livros de Stephenie Meyer (Crepúsculo, Eclipse, Lua Nova, Amanhecer). O site exibiu como produtos semelhantes os livros de receita da Dona Benta e a coleção de Chico Buarque. De semelhantes, os livros só tinham o formato de coleção.

Claro que alguém que lê Meyer pode ser apaixonado por culinária ou ter um gosto mais refinado nas horas vagas e ler Chico Buarque. Mas ainda acho que esse recorte não abrange tantos compradores.

A reportagem “A Ciência do Palpite” da Veja dessa semana me tranqüilizou. A matéria mostra que os cientistas da computação já estão preocupados em apurar esses sistemas de recomendações. Prova disso é que o site americano de aluguel de filmes NetFlix oferece o gordo prêmio de 1 milhão de dólares para quem conseguir melhorar em 10% a precisão de seu sistema de recomendações.

Pelo valor da recompensa já dá para imaginar o quanto o site pretende lucrar, mas o lucro também será dos clientes que não serão mais bombardeados com opiniões de vendedores virtuais semelhantes a muitos que encontramos em lojas físicas que sugerem por sugerir na tentativa de chutar um produto para engordar a sua sacola.