sexta-feira, 23 de maio de 2008

Ajuda tardia

Mianmar foi atingido na madrugada do dia 2 por um violento ciclone, nomeado de Nargis. As conseqüências que os ventos de 190 quilômetros por hora trouxeram ao país são estarrecedoras. Nos dias posteriores ao ciclone as estimativas da ONU falavam em 100 000 mortos e 1,5 milhão de desabrigados, hoje, são estimadas 2,5 milhões de vítimas.


Como se não bastasse a angústia da perda de familiares e de suas casas, a população ainda sofreu com a má vontade de um regime autoritário e avesso a qualquer tipo de interferência internacional, mesmo que essa significasse a salvação de centenas de vidas.


Expostos ao risco de contaminação, com fome e sede os sobreviventes esperavam que as negociações enfim trouxessem ajuda humanitária. A resistência foi tão grande que a própria ONU chegou a suspender o envio de alimentos porque o Exército apreendeu os primeiros carregamentos e não distribuiu a comida. Diante de atitudes como essa não é de se estranhar que o ministro de Relações Exteriores da França, Bernard Kouchner, tenha falado em ajuda humanitária forçada.


A espera por ajuda acabou somente hoje (21 dias após a catástrofe) quando a Junta Militar de Mianmar foi convencida pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, a aceitar a entrada de voluntários estrangeiros no país.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Vestibulares preparam lista de livros

Todo ano, vestibulares como os da Fuvest e Unicamp divulgam a lista de leitura obrigatória para quem vai participar das provas. Da relação constam livros da literatura clás­sica nacional e internacional.

Para muitos professores de língua portuguesa essa cobrança se faz necessária, pois a maioria dos alunos não tem hábito de ler. “Não gosto muito da idéia das listas obrigatórias. O ideal seria que os alunos lessem espontaneamente”, disse o professor de português do curso Objetivo Ícaro Luís Fracarolli Vila.

Outros mestres avaliam que a cobrança pode ser prejudicial para a formação de leitores. “Nem sempre colabora, pois se trata de algo pontual, de uma prova. Dessa forma, por vezes, o vestibular mais afasta do que aproxima os alunos da literatura”, afirmou o professor Ademir Barbosa Júnior, autor do livro “Segredos para o Vestibu­lando - do CDF ao ZEN”.

Mas Barbosa Júnior concorda que para alguns o resultado é muito positivo. “De qualquer ma­neira, existem boas descobertas feitas por esses estudantes. Alguns continuam a se aprofundar em determinados autores e tornam-se realmente leitores”.

Daniel da Silva Gomes, 17, é aluno do Cursinho Etapa e estuda para o vestibular de engenharia da USP (Universidade de São Paulo) e Unicamp (Universidade Estadual de Campinas. Afirmou que leu os livros exigidos durante o ensino médio. “A maioria dos meus amigos tem opinião semelhante a minha, mas conheço pessoas que apreciam as obras e buscam ler outros livros dos mesmos autores”.

Já Paula Gea Zamp­ieri,18, não está preocu­pada com a lista da USP, em­bora ten­ha lido al­guns dos livros durante o ensino médio. Aluna do cursinho CPV, Paula prestará administração na FGV (Fundação Getúlio Vargas) e no Ibmec (Instituto Brasileiro de Mer­cado de Capitais). Para isso, tem lido os livros indicados por essas instituições. “No cursinho estamos lendo Gilberto Freyre, Caio Prado Jr. e Sérgio Buarque de Holanda”, afirmou.

A escolha dos livros que con­starão dos vestibulares também gera controvérsias. Os professores consideram boa a seleção. Afir­mam que nas listas está conden­sado o melhor da literatura. “É uma feliz coincidência. Apesar de ser obrigatória, os alunos têm acesso ao melhor da literatura”, disse o professor de português do curso Anglo Samuel da Silva.

Já a vestibulanda Paula acha que a lista deveria ser escolhida de acordo com cada curso. “Cada vestibular deveria cobrar assuntos pertinentes ao próprio curso que o aluno vai prestar. Com certeza eu iria banir livros como “Iracema” e lotaria o vestibular de Machado de Assis”, disse.

Muitos alunos consideram os livros cansativos. Por isso recor­rem a resumos encontrados na internet e nos próprios cursinhos e colégios. “Apesar de todo o es­forço dos professores, a maioria procura os resumos. Além disso, a globalização e o sistema educa­cional fizeram com que o gosto pela leitura diminuísse. Ler exige tempo. Por isso os alunos preferem os resumos que oferecem uma sín­tese do enredo, deixando de lado toda a beleza estética do texto”, afirmou o professor Ícaro.

O professor afirma ainda que as próprias provas permitem que os alunos recorram aos resumos. “Os vestibulares são culpados, pois preocupam-se em cobrar apenas o plano da história, deixando de lado o estético. Se o plano estético fosse cobrado, os alunos não teriam como deixar de ler as obras”.
*A matéria foi escrita para o Jornal Rudge Ramos