terça-feira, 13 de maio de 2008

Vestibulares preparam lista de livros

Todo ano, vestibulares como os da Fuvest e Unicamp divulgam a lista de leitura obrigatória para quem vai participar das provas. Da relação constam livros da literatura clás­sica nacional e internacional.

Para muitos professores de língua portuguesa essa cobrança se faz necessária, pois a maioria dos alunos não tem hábito de ler. “Não gosto muito da idéia das listas obrigatórias. O ideal seria que os alunos lessem espontaneamente”, disse o professor de português do curso Objetivo Ícaro Luís Fracarolli Vila.

Outros mestres avaliam que a cobrança pode ser prejudicial para a formação de leitores. “Nem sempre colabora, pois se trata de algo pontual, de uma prova. Dessa forma, por vezes, o vestibular mais afasta do que aproxima os alunos da literatura”, afirmou o professor Ademir Barbosa Júnior, autor do livro “Segredos para o Vestibu­lando - do CDF ao ZEN”.

Mas Barbosa Júnior concorda que para alguns o resultado é muito positivo. “De qualquer ma­neira, existem boas descobertas feitas por esses estudantes. Alguns continuam a se aprofundar em determinados autores e tornam-se realmente leitores”.

Daniel da Silva Gomes, 17, é aluno do Cursinho Etapa e estuda para o vestibular de engenharia da USP (Universidade de São Paulo) e Unicamp (Universidade Estadual de Campinas. Afirmou que leu os livros exigidos durante o ensino médio. “A maioria dos meus amigos tem opinião semelhante a minha, mas conheço pessoas que apreciam as obras e buscam ler outros livros dos mesmos autores”.

Já Paula Gea Zamp­ieri,18, não está preocu­pada com a lista da USP, em­bora ten­ha lido al­guns dos livros durante o ensino médio. Aluna do cursinho CPV, Paula prestará administração na FGV (Fundação Getúlio Vargas) e no Ibmec (Instituto Brasileiro de Mer­cado de Capitais). Para isso, tem lido os livros indicados por essas instituições. “No cursinho estamos lendo Gilberto Freyre, Caio Prado Jr. e Sérgio Buarque de Holanda”, afirmou.

A escolha dos livros que con­starão dos vestibulares também gera controvérsias. Os professores consideram boa a seleção. Afir­mam que nas listas está conden­sado o melhor da literatura. “É uma feliz coincidência. Apesar de ser obrigatória, os alunos têm acesso ao melhor da literatura”, disse o professor de português do curso Anglo Samuel da Silva.

Já a vestibulanda Paula acha que a lista deveria ser escolhida de acordo com cada curso. “Cada vestibular deveria cobrar assuntos pertinentes ao próprio curso que o aluno vai prestar. Com certeza eu iria banir livros como “Iracema” e lotaria o vestibular de Machado de Assis”, disse.

Muitos alunos consideram os livros cansativos. Por isso recor­rem a resumos encontrados na internet e nos próprios cursinhos e colégios. “Apesar de todo o es­forço dos professores, a maioria procura os resumos. Além disso, a globalização e o sistema educa­cional fizeram com que o gosto pela leitura diminuísse. Ler exige tempo. Por isso os alunos preferem os resumos que oferecem uma sín­tese do enredo, deixando de lado toda a beleza estética do texto”, afirmou o professor Ícaro.

O professor afirma ainda que as próprias provas permitem que os alunos recorram aos resumos. “Os vestibulares são culpados, pois preocupam-se em cobrar apenas o plano da história, deixando de lado o estético. Se o plano estético fosse cobrado, os alunos não teriam como deixar de ler as obras”.
*A matéria foi escrita para o Jornal Rudge Ramos

Um comentário:

Marina disse...

concordo com a obrigatoriedade dos livros no vestibular,porque mesmo que o aluno não os leia, pelo menos ajuda a construir um referencial cultural mínimo, sem o qual é ridículo se pensar em cursar o ensino superior.
como sempre, bela matéria, mazinha!