domingo, 24 de fevereiro de 2008

Mais um discurso?

José Eduardo Cardozo assumiu a secretaria-geral do PT recentemente. Ocupando o segundo posto mais alto do partido, o petista, em entrevista dada a Veja, mostra-se consciente dos problemas e dos escândalos envolvendo o PT e afirma só ter assumido o cargo com o compromisso de “defender a instituição do código de ética, o resgate da democracia partidária e a depuração ética do partido”.

Na mesma entrevista, o ex-integrante da CPI dos Correios deu sua opinião a respeito do mensalão. “Vou ser claro: teve pagamento ilegal de recursos para políticos? Teve. Ponto final. É ilegal? É. É indiscutível? É. Nós não podemos esconder esse fato da sociedade”.

Cardozo compartilha ou pelo menos diz compartilhar do mesmo sentimento de justiça do povo brasileiro que assistiu boquiaberto a uma série de escândalos. Ao contrário de muitos petistas, Cardozo não se mostra cúmplice e nem omisso às acusações que rondam o governo e seus aliados: “qualquer desvio ético que um petista cometa tem de ser rigorosamente punido”.

Discursos são sempre bonitos e rodeados de promessas, resta saber se essa honestidade e vigilância serão cumpridas por Cardozo ou se não passam de palavras de alguém que se vê como um futuro candidato à prefeitura de São Paulo, como afirmou já no fim da entrevista.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

“Quando a Morte conta uma história, você deve parar para ler”


Sem dúvida, Markus Zusak inovou ao colocar a Morte como narradora de seu romance, “A Menina que Roubava Livros”. A tão temida figura presente em filmes de terror, livros macabros e em seus sonhos mais terríveis saí de sua imaginação para a sua mesa de cabeceira.

São mais de 400 páginas em que são contadas as aventuras e desventuras de Liesel. O cenário da história é a Alemanha nazista.

Em um contexto político em que as palavras são de extrema importância e o principal instrumento de dominação, Liesel as conhece e se apaixona.

Nos momentos mais difíceis de sua vida, a garota procura nos livros, roubados, a força que precisa para transpor obstáculos.

Durante a narrativa o leitor é lembrado de que não se trata de um simples narrador. Frases como “(...) a guerra começou e minha carga de trabalho aumentou” e “O cemitério me acolheu como uma amiga (...)” te fazem lembrar de quem está diante de você.

Lições de amizade e companheirismo são o toque final do romance que traz entre outros tipos de amores o paterno e o fraternal. Apesar da carga de tristeza, o leitor poderá até se emocionar, porém, a história não se aproxima em nenhum momento dos comuns romances água-com-açúcar que lotam as livrarias, mas que não podem ser considerados literaturas e sim entretenimento. A luta pelo sustento em um país dominado pela crise, a força dos judeus tidos como inimigos em sua pátria e da garota que em tantos momentos teve, além dos livros, a Morte como companheira.

Apesar da história se passar numa época distante de nós é contemporânea no que diz respeito à inovação. Uma ótima leitura para quem gosta de literatura de qualidade.

“Já faz muitos anos desde aquilo tudo, mas ainda há muito trabalho a fazer. Posso lhe jurar que o mundo é uma fábrica. O sol a movimenta, os humanos a dirigem. E eu permaneço. Levo-os embora”, finaliza a narradora.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Cidadania na Rede

O brutal assassinato do menino João Hélio em fevereiro de 2007 é lembrado como o crime que chocou todo o país. Porém, não foi isso que notei nas vésperas do aniversário de um ano da morte do garoto.

Recebi em minha página de recados no site de relacionamentos, orkut, um pedido de ajuda de uma prima minha. No recado, ela pedia que seus amigos denunciassem uma comunidade que brincava e sugeria as maiores atrocidades ao garoto João Hélio.

Para os criadores e para os mais de 3000 internautas membros da comunidade o assassinato do garoto, arrastado por 7km nas ruas do Rio de Janeiro, não passava de um fato banal tratado com tanta, ou maior crueldade que os próprios assassinos de João Hélio.

Na ocasião do assassinato muitos se perguntaram quem teria tanta maldade para cometer um crime tão brutal. Eu também me perguntei. Hoje, vejo que qualquer um dos integrantes dessa comunidade, que usam o orkut como um meio propagador do ódio, poderia ser o assassino de João Hélio.

Apesar de usuária desse site de relacionamentos sempre tive minhas críticas sobre a falta de segurança e privacidade. Mas, acho que é possível usá-lo como um meio de comunicação entre amigos e como um meio de discussão saudável de temas polêmicos como poderia ter sido nesse caso. Há vários temas associados à morte do garoto que poderia ser abordado nesse site de e que não são debatidos com tanto afinco. No entanto, 3000 pessoas perdem o seu tempo e usam de toda sua falta de respeito aos familiares e pessoas que se impressionaram com mais esse crime.

Usei parte do meu tempo numa pequena campanha de denúncia dessa comunidade, que saiu do ar no dia seguinte. Tenho certeza que nem o meu nem o tempo de quem denunciou a comunidade foi perdido. Imagino que essa não deve ser a única comunidade aberta no orkut que usa toda a ironia e criatividade de seus integrantes para disseminar a maldade. Entretanto, todas as que chegarem ao meu conhecimento serão denunciadas. Não me sinto e nem me permito ser cúmplice da falta de cidadania que muitas vezes rondam esse site. Navegar com cidadania é possível.